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A Prefeitura de João Pessoa, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (Sedhuc), realizou, nesta quarta-feira (3), o II Seminário Municipal de Acolhimento Familiar em Família Acolhedora, evento voltado a profissionais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e do Sistema de Garantia de Direitos. Com o tema ‘Acolhimento Familiar: Prioridade para o Desenvolvimento Integral’, a programação reuniu especialistas, gestores, famílias acolhedoras e representantes de órgãos de proteção para discutir caminhos que garantam mais afeto, segurança e pertencimento às crianças e adolescentes da Capital.
Durante a abertura do evento, que aconteceu no auditório do Ministério Público da Paraíba (MPPB), o vice-prefeito Leo Bezerra destacou o compromisso da gestão municipal em ampliar o programa e aprimorar o cuidado às crianças. “A melhor forma de acolher é inserir a criança em um ambiente familiar. Esse é o nosso maior intuito. Tenho certeza de que, nas mãos do prefeito Cícero Lucena e de toda nossa equipe, esse programa só tende a crescer. É dialogar, discutir e ver a melhor forma de fazer isso com responsabilidade, dando condições para a criança e para a família, para que ela possa se desenvolver cada vez mais”, ressaltou.

Melhorias à vista no programa
O secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Diego Tavares, reforçou que o programa ‘Família Acolhedora’ representa um avanço emocional, social e econômico na política de proteção. “É um programa muito especial. Por mais que ofereçamos toda estrutura em uma casa de acolhimento, nada se compara a uma criança estar em um lar, ter referência de pai, mãe, às vezes até de irmão. Todo mundo ganha: ganha a criança, ganha a prefeitura, ganha a sociedade. Uma criança em acolhimento institucional custa três vezes mais ao serviço público do que em uma família acolhedora”, explicou.

O secretário anunciou ainda que a Prefeitura de João Pessoa trabalha para ampliar o programa. “Estamos realizando essa capacitação em parceria com o Ministério Público e outros órgãos importantes. Em breve, será anunciada uma nova estrutura, uma nova casa, para acolher melhor essas famílias e aumentar o número de beneficiados”, falou.
Compondo a mesa do evento, o promotor da Criança e do Adolescente, Alley Escorel, chamou atenção para o desafio nacional de efetivar o que está previsto na legislação. “A Constituição diz que toda criança tem direito a uma família. Mas, no Brasil, 95% das crianças acolhidas estão em abrigos, e apenas 5% em famílias acolhedoras, uma inversão total da política estabelecida. João Pessoa já começa a mudar esse cenário, mas precisamos ampliar muito”, disse.
Segundo ele, acolher em família não é apenas cumprir a lei, mas garantir humanidade. “O acolhimento familiar é mais benéfico e é a forma preferencial prevista. Precisamos superar a cultura do abrigamento para assegurar direitos”, frisou.

Histórias que transformam vidas
O evento também contou com a presença de famílias que integram o programa Família Acolhedora. Entre elas, Janaína Feitosa, acolhedora desde 2018, que já recebeu 17 crianças. Ela contou que decidiu participar após conhecer o programa por meio de uma amiga.
“Eu sempre tive o sonho de fazer algo por crianças. Quando apareceu a oportunidade de ser mãe acolhedora, eu abracei com unhas e dentes. Entrei em 2018 e estou até hoje. É um sacrifício diário, mas é amor. Eu cuido como cuido das minhas filhas. Levo para médico, para onde eu vou. Eles fazem parte da família. Quando chega uma criança, eu digo as minhas filhas: ‘Chegou um irmão pra vocês’. Eles não podem sentir rejeição, nem solidão. Eu tento cobrir tudo que faltou neles”, disse.

Janaína reforça que a experiência transforma tanto quanto acolhe. “É um amor duplicado. A gente aprende com eles todo dia. Eles tiveram seus direitos violados, e eu faço de tudo para garantir que nada falte”, relatou.
A programação incluiu palestras, diálogos técnicos e apresentações culturais. A assistente social e advogada Neusa Cerutti, referência nacional no tema, conduziu uma palestra de sensibilização. “Quando falamos de família acolhedora, falamos de sujeitos que sofreram violência e muitas vezes assustam a sociedade. Nosso trabalho hoje é sensibilizar, mostrar que essas crianças são plenamente capazes de receber amor, cuidado e proteção. A gente só vai viver em uma sociedade mais justa quando cuidar verdadeiramente das nossas crianças”, destacou.
Como funciona o Família Acolhedora
A coordenadora do programa, Andréa Araújo, explicou o funcionamento do serviço. “Qualquer pessoa que tenha disponibilidade de amar. São famílias voluntárias que oferecem um lar temporário, respeito e proteção. É uma política pública essencial, porque garante direitos fundamentais de crianças e adolescentes afastados de suas famílias de origem por medida protetiva. Na família acolhedora, elas têm cuidado individualizado, amor, afeto e convivência familiar, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente”, ressaltou.
Segundo Andréa, o acolhimento dura, em média, um ano e meio, podendo ser prorrogado. “Enquanto isso, a equipe técnica acompanha a família acolhedora e a criança. Nosso objetivo é que ela retorne à família de origem ou, se não for possível, vá para uma família adotiva”, complementou.
O II Seminário Municipal de Acolhimento Familiar se estendeu até o fim da tarde, reunindo profissionais, famílias e especialistas em torno de uma causa comum: garantir que cada criança tenha a oportunidade de crescer em um ambiente familiar, protetivo, amoroso e digno.






