Paraíba

Paraíba corre risco de repetir cenário do Rio de Janeiro, alerta MP ao denunciar ação de facções

Paraíba corre risco de repetir cenário do Rio de Janeiro, alerta MP ao denunciar ação de facções


PARAIBA.COM.BR

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) denunciou um homem acusado de reconstruir barricadas destinadas a impedir o acesso de viaturas e serviços públicos à comunidade Irmã Dulce, no bairro Barra de Gramame, em João Pessoa. A denúncia criminal, oferecida pelo 9º promotor de Justiça Ricardo Alex Almeida Lins, foi protocolada na 1ª Vara Regional de Garantias sob o número 0819297-03.2025.8.15.2002 e descreve a ação como um instrumento de fortalecimento territorial de facções criminosas.

Flagrante e crimes imputados

A investigação conduzida pela Delegacia de Gramame documentou o episódio ocorrido em 6 de novembro de 2025. Segundo o MP, o acusado foi flagrado reabrindo valas no calçamento da rua Motorista Antônio Belarmino dos Santos, valas que já haviam sido fechadas pelas forças de segurança. Ele ainda teria resistido à prisão com violência, agredindo policiais com socos e chutes.

O Ministério Público imputou ao denunciado os crimes de dano qualificado ao patrimônio público (art. 163, §único, III do Código Penal) e resistência (art. 329), sustentando que a gravidade concreta dos fatos impede a aplicação de medidas despenalizadoras.

Barricadas como mecanismo de poder

A denúncia destaca que o uso de barricadas não é um ato isolado, mas parte de uma estratégia para impedir a presença do Estado em áreas sob domínio de facções. As estruturas dificultam não apenas ações policiais, como também o acesso de ambulâncias, Conselhos Tutelares, equipes de vacinação, saneamento e coleta de lixo,  comprometendo serviços essenciais e expondo a população a situações de risco.

Segundo o MP, tais práticas beneficiam exclusivamente a manutenção do controle armado privado, em detrimento da população. “Moradores passam a viver sob regras impostas por grupos criminosos, perdendo o direito elementar à proteção estatal”, afirma o promotor Ricardo Lins na denúncia.

Violação de direitos e criação de poder paralelo

O documento detalha que, em territórios dominados por facções, surgem estruturas de poder paralelo como “tribunais do crime”, extorsão sistemática de moradores e comerciantes, controle de circulação e imposição de taxas para serviços básicos. Crianças e adolescentes acabam expostos à violência e à normalização da atividade criminosa, aumentando a vulnerabilidade social.

Para o Ministério Público, essa realidade representa “ruptura inaceitável da ordem constitucional” e afronta direta à soberania estatal.

Paralelo com experiências de outros estados

O MP alerta que estados como o Rio de Janeiro já enfrentam consequências graves após permitirem a expansão territorial do crime organizado, como o fortalecimento de milícias e o colapso de serviços essenciais. A Paraíba, segundo o órgão, não pode repetir esse cenário.

“O avanço das barricadas é um passo rumo à perda irreversível do controle territorial”, destaca o promotor.

Rejeição de acordo penal

O MPPB reforça que não cabe Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) no caso, por considerar a conduta incompatível com qualquer forma de despenalização. O órgão afirma que reabrir valas no calçamento não é mero vandalismo, mas uma ação estratégica de facções para impedir o acesso do Estado.

Pedido de indenização

Na denúncia, o Ministério Público requer que o acusado seja condenado ao pagamento de indenização por danos materiais, morais individuais e coletivos, estes fixados em valor mínimo correspondente a 20 salários-mínimos, a serem destinados ao Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor ou equivalente.

Clique aqui e receba notícias exclusivas do Paraíba.com.br através de nosso WhatsApp.